Aqui começa a história de um jovem nordestino, que aos seus 19 anos, deixou para trás pai, mãe e irmão no Município de Frecheirinha - CE, saindo em busca de sonho muito comum entre os nordestino que saem mundo a fora em busca de melhores condições de vida e depois voltar para sua terra natal para ajudar a família que deixara para trás naquele sertão nordestino.
Graciano Ferreira da Silva, 93 anos, nordestino,
natural de Frecheirinha – Ceará/Brasil
Contextualizo parte da história de meu Pai, Graciano Ferreira da Silva Filho de Maria Francisca Ferreira da Silva e Antonio
Ferreira da Silva (Pachola), Irmão de Antonio, Silvério, Francisco e Teodora, nordestino,
natural de Frecheirinha – Ceará, aos 15 dias do mês de maio de 1942, aos 19 anos
ele e outros nordestinos (cearenses), decidiram se alistar como soldados da
borracha, em decorrência da segunda guerra mundial, onde naquela ocasião
recrutava voluntários para fortalecer a produção de borracha produzida a partir
do látex, para subsidiar o Brasil e por ocasião da crise de produção de
borracha na Malásia, a maior produtora de borracha à época. Assim diversos
nordestinos, iludidos com grande a promessa de que, na Amazônia corria leite e
mel, ou seja, uma terra de grande fartura, onde qualquer um poderia torna se
rico (afortunado) em pouco tempo com a produção de borracha. E assim, Graciano
e diversos outros nordestinos embarcam no navio “Rodrigues Alves”, com destino
ao Estado do Acre, deixando para trás, Pai, Mãe e irmãos, seguindo viagem em
busca de um sonho, muito comum aos desafortunados, “(cortar seringa no Acre,
uma terra que corre leite e mel, melhorar de vida e retornar a sua terra para ajudar
a família)”. Essa viagem demorou aproximadamente 3 meses, até o município de
Feijó, quando desembarcaram no dia 15 de agosto do mesmo ano, no seringal
Califórnia – Rio Enviara, onde passou alguns dia, até ir trabalhar no corte da
seringa, na colocação Boa Vista - Seringal Porongába, de propriedade do coronel Taumaturgo. Lá ele juntou se maritalmente com a Srª Nazaré a
qual já tinha diversos filhos, passando 3 anos apenas no referido seringal, ao
qual ele presenciou naquela época a exploração de madeira em larga escala,
principalmente das espécies mogno e pau rosa, as quais eram jogas ao rio e
transportadas em forma de balsas, amarrada as toras uma nas outra. Nesse
intervalo ele trabalhou no seringal Aliança, onde abriu estradas de seringa
para poder trabalhar, mas segundo ele na colocação onde ele foi morar não era
muito boa de látex, então ele decide retornar para o seringal Porongába que já
havia sido vendido par o senhor Chico Ulysses, que também era dono do seringal
São Francisco, lá ele trabalhou aproximadamente 20 anos de sua vida, com muito
esforço e determinação, onde consegui juntar (armazenar)1660 kg de borracha para
vender e retornar para o Ceará, foi então que o Sr. Chico Ulysses deu uma
noticia que estava subindo o rio o navio do seu genro Batista Araújo, para
apanhar um grande carregamento de borracha e quem quisesse vender a sua
borracha, podia vendar no porto por um preço mais baixo, ou receber em Manaus,
por um peço maior. Então, como Graciano já tinha a intenção de retornar para
sua terra natal e como o trajeto de viajo era a mesma rota para o seu retorno
ao Ceará, ele decidiu receber o que lhe era devido, somente ao desembarcar em Manaus
– AM e assim ficou combinado. O navio desceu até Itacoatiara, abaixo de Manaus,
por volta de 1955. A ansiedade era grande para receber a recompensa por anos de
trabalho e muito sacrifício, foi então que veio a surpresa, ele descobriu que
havia sido supostamente, enganado ou pelo Sr Chico Ulysses, ou pelo comprador
da mercadoria, que não quis pagar por falta da assinatura do recibo de compara
e venda da mercadoria, que deveria ter sido assinado por Chico Ulysses (dono do
seringal), uma vez que Graciano não sabia si quer, assinar o próprio nome. A promessa
de Ulysses era que a referida mercadoria (borracha) deveria ser paga pelo
comprador na hora da entrega no desembarque, no entanto o que ele não sabia e
que o senhor Francisco Ulysses havia passado por Manaus, indo diretamente para
sua terra natal (ele também era nordestino). Foi então que Graciano se deu
conta de que havia sido enganado de fato. Sem ter para onde ir e sem saber o
que fazer naquela hora, diante de sua companheira e seus filhos que havia
seguido viagem sob sua responsabilidade, ele encontra um senhor chamado pelo
nome de Elias, que o convida para trabalhar de braçal no campo de aviação daquele
município, onde trabalhou por alguns dias, depois foi trabalhar na estiva
(descarregando mercadoria no porto), lá trabalho seis dias e seis noites sem
parar, foi então que adoeceu e quase morre de pneumonia. Após um ano de muita
luta para sobreviver com a esposa e seus enteados, morou de favores na
hospedaria Duque de Caxias em Manaus - AM, lá foi onde ele soube da noticia de
que um navio estava com data marcada para o Acre, levando vários brabos (pessoas
leigas sobre conhecimentos da floresta) para cortar seringa no qual conseguiu
passagens para ele e sua família. Retornando pelo Rio Acre, numa viagem de
aproximadamente 30 dias, na qual antes de chegar em Rio Branco/AC,
forçadamente, foi obrigado a desembarcar no seringal Bagaço de Nonato Barros, no
ano de 1956, onde ficou juntamente com sua família e um dos brabos que viajava
também naquele navio, ao desembarcar tratou logo de procurar abrigo, encontrando
uma casa abandonada que serviu de abrigo por alguma horas até ser despejado
pelo dono do lugar, até que encontrou uma família de evangélicos que o acolheu,
onde deixou a sua família e dirigiu-se para a Capital Rio Branco a pé,
juntamente com o outro nordestino que havia desembarcado com ele. Do seringal
Bagaço até Rio Branco, foram 3 dias de caminhada e no trajeto foram muito bem
acolhidos em uma das três noites que passaram durante o trajeto por uma família
acometidos pela doença da hanseníase. Ao chegar à cidade de Rio Branco, avistou
logo os outros nordestinos que vinham também no mesmo navio e foi aquela
alegria em rever os conterrâneos. Naquele momento, ele tinha ouvido falar do Sr
Antonio Ferreira, irmão de Adonai Santos, resolvendo ir procurá-los e por sinal
foi bem recebido, dizendo que tinha ouvido falar que o mesmo, possuía um
seringal pros rumo do auto Acre, ao qual pediu lhe que o arranjasse acolhida e
trabalho, o qual ofereceu uma colocação de seringa La no seringal Bom Destino,
então ele falou da família que havia ficado para trás, lá no Seringal Bagaço. O
seu Antonio Ferreira logo colocou se a disposição para fretar um barco para ir
buscar a sua família que ao chegar, ele tratou logo de arranjar um lugar no
Hotel Chuí, onde ficou hospedado por quinze dias, até que a lancha fosse
leva-los até o referido seringal. Chegado o dia do embarque, subiram o rio Acre,
numa viagem que duraram quatro dias, até o Bom Destino, lá ficou com sua
família na colocação de seringa Alto Alegre, a qual não era uma muito boa de
látex, ficou ali somente 1(um) ano e foi morar na colocação Vai se vê, no
Seringal São Bernardo, trabalhando naquela localidade pouco mais 2 anos, ele
trabalhava com duas pessoas (chamados de meeiros), nesse período o seringal foi
vendido para o seringalista Deusdéte. Foi nesse seringal onde Graciano deixou a
sua primeira mulher de nome Nazaré, ela era uma senhora com idade maior que a
sua e já não havia mais razões para viverem juntos, nesse período ele conheceu
a dona Letícia, esposa de seu Aldenor, onde ele ficou encantado por ela, que já
não vivia muito bem na companhia do senhor Aldenor, foi então, que a mesma
deixou a companhia de seu Aldenor e juntou-se com o Graciano, levando com sigo
o seu filho recém nascido (Domingos), de aproximadamente 6 meses, então saíram
daquela localidade rumo ao Seringal Iracema, próximo de Xapuri/AC, porém na
viagem, encontraram o senhor Severo, que o chamou para trabalhar no seringal
São Francisco do Iracema, também no Rio Acre, um pouco abaixo do Iracema.
Chegando ao seringal São Francisco, foi morar na colocação Judéia, “relembrando
uma casinha muito simples, chão de barro, um lugar de muitas onças pintada, que
vivia rodeado sua casa”, ele trabalhou ali somente 3 meses, produzindo 90 kilos
de borracha e lá, ele conheceu Chico Jerônimo também seringueiro seu vizinho de
colocação. Naquele período de 1961, sua esposa Letícia já grávida e como ele não
confiava em deixa-la grávida sozinha, por medo que fosse atacada por onças, ela
já estava próxima a dar a luz, então eles foram para a margem do referido
Seringal. Lá foi onde eu nasci, então meu pai Graciano, ganhou a confiança dos
donos do seringal, o senhor João Nagibe e seu filho José Estevos, com isso, foi
convidado a trabalhar no barracão como zelador e tratador de pequenos animais,
ficando pouco tempo ali. Retornando novamente para o centro do mesmo Seringal,
indo morara na colocação Santo Antonio, onde fez amizade com o senhor Valmirá,
ficando lá pouco tempo (2 anos apenas), havia muita caça, no entanto havia
também muitas onças, que vez em quando, rodeavam sua casa, por isso ele decide
retornar para a margem do Seringal, eu já tinha 3 anos, então minha mãe, Letícia
engravida novamente e dar a luz uma menina (Maria de Lurdes), a qual já com a
idade de ano, sofreu um acidente muito grave, caindo sobre uma fogueira em
chamas, que servia para aquecer os ferros de marcar borrachas antes de serem transportadas
para Rio Branco – Acre. foi um grande aperreio, lembro que banharão ela com
leite condensado, mas não fez nenhum efeito, meu pai Graciano corria
desesperado para encontrar um barco para levar a criança até Rio Branco, até
que em fim, já era noite ele encontrou um senhor que se prontificou a descer o
Rio, para socorre minha irmã, então minha mãe Letícia eu e minha irmã Lurdinha,
como era chamada, embarcamos naquele barco, rumo a Rio Branco, lembro ainda que
o rio estava muito cheio e havia muito balceiros (tronco de arvores) descendo
rio abaixo, como era note e a visão era muito ruim, quase que o barco naufragou,
ao bater em ganhos de arvores a beira do rio, que não se vê barranco quando ele
esta cheio. Enquanto estávamos em
Rio Branco, minha mãe ficava no hospital com a minha irmã e eu
fiquei na casa do senhor José Esteves, dono do seringal e lá fiz amizade com os
filhos dele e de dona Melinha, aos quais foram meus amigos de infância. Mas
graças a Deus, minha irmã ficou curada, com apoio também do senhor José
Esteves e dona Melinha, que nessa época, já era comadre de minha mãe, foi nessa
época que eu vi pela primeira vez uma barra de gelo, a qual me causou
admiração, em vê aquela barra pingando água e não tinha meios de enxuga-la,
também fiquei conhecendo picolé de groselha, uma grande novidade que jamais
pensei que existia. Após minha irmã ter ficado curada, porém mutilada, pelas
marcas das queimaduras, voltamos para o Seringal onde nasci. Lembrando-me ainda
daquela época, que até hoje passa pela minha memória, vários fleches que me faz
recordar de alguns momentos que marcaram minha infância, aos quais me recordo
de quando um raio, em meio a uma tempestade atingiu uma palheira verde que o
deixou em chamas, enquanto eu minha mãe, meu irmão Domingos e Lurdinha, quase
éramos arrastados por aquele temporal em campo aberto, se não fosse um
pé de Limeira que nos agarramos para não ser levado pelo vento, cavacos da
cobertura da casa voavam como folhas de papeis. também me lembro das imensas
balsas que eram construídas com as peles de borrachas, para serem transportadas
até Rio Branco, uma a uma eram, jogadas ao rio, amarradas por cordas, formando a imensa balsa que descia o rio de borbulhas enfileiradas, com vários
homens que o direcionavam pelo leito do rio, fazendo sinalização com tochas
durante a noite e instrumento de sopro durante o dia. Após uns três anos, mais
ou menos, o seringal foi vendido para o senhor, Birroque conhecido por Tom, a
quem meu pai não tinha a mesma afinidade, igual a que tinha com José Esteves, com isso
não havia mais aquela vontade em permanecer naquele lugar.
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